Em 11 de Setembro, 2001, data dos atentados nos EUA, eu tinha trabalhado só 7 meses como agente consular. Naquelas primeiras horas e dias de confusão, ninguém sabia o que aconteceria em seguida, ou se algo mais estava por acontecer. Em seguimento da política desenvolvida pelo Departamento do Estado dos EUA, recebi um telefonema do meu supervisor, o Cônsul-Geral em Lisboa. Americanos, em geral, e especialmente os que estavam directamente identificado com o Dept. do Estado ou o Governo Americano, eram tidos como estando em risco. Por isso, fui instruído para, entre outras coisas, "manter uma presença discreta", i.e., para não dar nas vistas. Não ri abertamente, mas achei imensa graça esta noção no meu caso.
Com 1,94m de altura, é impossível para mim andar pelas ruas do Funchal sem dar nas vistas. Quantas vezes minha altura me deu problemas, ao bater com a cabeça em casas mais antigas, construídas com portas que nem 1,80m não têm?! Além disso, em 15 anos de dar aulas de Inglês, tive mais de mil alunos, e durante mais de 10 anos tivemos uma livraria e papelaria num centro comercial no coração da cidade. Tanta gente nos conhece, mesmo nós não reconhecendo a eles. "Mantenha uma presença discreta." Pensei eu -- Talvez se andasse a gatinhar pelas ruas, ninguém notava.
Seria inútil. As pessoas aqui sempre repararam em nós. Logo no início, éramos diferentes, e não pela côr da pele---a Madeira fica próxima à África, mas foi colonizada pelos portugueses, e quando cá chegámos em 1976, houve muito poucas pessoas de côr aqui (só me lembro de uns 4 ou 5), uma situação que já mudou com a chegada de muitos imigrantes---mas era que fomos dos poucos americanos na ilha, e a única família americana jovem com crianças, e porque fomos os primeiros baptistas a vir à Madeira. Poucas pessoas tinham ouvido falar de baptistas antes de chegarmos.
Talvez o que mais ilustra a singularidade da nossa presença naqueles primeiros anos, foi a recepção de um postal (deve ter sido por volta de 1980). Escrito em Alemão, o postal informara que o remetente e esposa nos veriam dentro de 15 dias. A essa altura, eu já tinha estudado Alemão, mas não conseguia obter mais informação do postal, e em verdade, pouco mais informação havia nele. Procurei identificar o remetente com algum turista alemão que pudesse ter visitado aos cultos em Inglês, mas sem sucesso. Estudei o postal com mais atenção: fora enviado do Algarve, e olhei bem para o destinatário, "Bernhard Potter"...e estas duas palavras formaram a totalidade do endereço de destino---não havia rua, nem cidade, nem país, somente o nome de uma pessoa. De repente fez sentido: o postal não era para mim. Um turista alemão de férias no Algarve comprou postais para enviar aos amigos e familiares na Alemanha, mandou as frases de sempre "tempo maravilhoso...a gente se vê em 15 dias...," etc., e esqueceu-se de completar o endereço em baixo do nome do seu amigo, Bernhard Potter. Deitou o postal nos correios assim mesmo, e os correios entregaram o postal ao único Potter que conheciam em Portugal. (Bernhard? Edgar? Qual o problema? Não é Potter, na mesma?) Realmente os correios merecem uma salva de palmas com aquele esforço...hoje em dia, nem com morada completa conseguem entregar a correspondência, às vezes.
As implicações na obra missionária são evidentes. Quando estava no continente em Novembro, falei a um grupo de alunos do Seminário Baptista sobre missões pioneiras e a implantação de igrejas. Um dos pontos é que, para o povo a quem queremos alcançar, o missionário e a sua família estabelecem os padrões e se tornam em exemplos vivos da "nova religião". Para o bem ou para o mal, as nossas vidas definiram "Baptista" nas mentes dos madeirenses, que nunca tinham ouvido falar de Baptistas antes, muito menos visto algum.
A nossa filha mais nova, Joy, nasceu na Madeira e estudou aqui até completar o 12º ano. No seu blog (em Inglês), ela descreveu em parte o que ela sentiu neste papel, onde não podia deixar de dar nas vistas. Ela entitulou o seu artigo "Where everybody knows your name...or your address..." (Onde todos sabem o teu nome...ou a tua morada...)
Curioso foi, que na tarde de 11 de Setembro, poucas horas depois da queda das torres gêmeas em Nova Iorque, um agente da PSP foi destacado para "guardar" a nossa casa como medida de precaução. A RTP também veio para fazer uma entrevista, que foi filmada dentro de casa. Mas quando a entrevista passou no Telejornal naquela noite, lá estava uma imagem bem clara da nossa casa (a casa descrita por Joy como, "A Casa Branca na Encosta em que os Carros Batem"). Talvez a RTP teve um propósito em mostrar a casa na reportagem: caso os terroristas estivessem interessados em fazer explodir a nossa casa, era importante assegurar que não se enganassem no alvo.
1 comentário:
Oi Irmão Edgard, voce ainda se lembra dos irmãos aqui do Brasil??, em especial dos irmãos da Igreja Batista de Santa Cruz do Rio Pardo??????? Pois nós não esquecemos de voces não...o que aconteceu que nunca mais mandou notícias pra nós????? Sou Mary Angela, filha do falecido Pastor Waldemar Correa de Souza e membra da referida Igreja...estamos com saudades de voces...mande nos not´´icios. Abraços e saudadções á toda a sua família.
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