Embora tivesse oportunidade de escrever ontem, não expliquei a razão do longo silêncio das semanas anteriores. Há sempre a desculpa que toda a gente tem nesta época do ano, que andamos muito ocupados, e para nós, isto significa mais ensaios para a cantata de Natal, que o nosso coro pequeno vai cantar na noite do dia 24. O trabalho no consulado não tem sido muito exigente, embora esta semana houve a volta habitual do corpo consular para apresentar cumprimentos às entidades governamentais e militares. O que me prendeu, de facto, foi um trabalho de tradução maior do que inicialmente previsto, que me levou a trabalhar nele 85 horas em menos de 6 dias para poder fazer a entrega no prazo combinado. Aparentemente o cliente estava satisfeito com o trabalho...na outra semana enviou mais trabalho do mesmo, mas cerca de um terço do tamanho da primeira parte, e já aprendi a pedir um prazo mais longo, de modo que o stress neste trabalho não era tanto.
Aniversário... neste período de tempo, arranjei um dia para ficar mais velho. Agora posso me defender da acusação de ter 60 anos. Já não tenho. Houve cumprimentos de feliz aniversário daquelas pessoas que já sabemos que vão se lembrar...uma das primeiras mensagens era um e-mail da mãe. (Afinal, não seria ela que me conhece mais tempo do que qualquer outra pessoa?) E umas surpresas, também: um telefonema de um pastor nos EUA em Providence, RI, e um e-mail de Andriy, o médico ucraniano que viveu e trabalhou aqui durante 4 anos, mais ou menos. Voltou para a Ucrânia há 3 anos, e visitámo-lo e a sua família quando lá estivemos em 2005. Depois perdemos o contacto...até esta mensagem para os meus anos. Que alegria! Que surpresa! E a sua família cresceu também, além de se ter começado com a construção da sua própria casa. As notícias de Andriy foram uma oferta preciosíssima para o meu dia de anos.
Andriy a segurar Anushka, o mais novo membro da família. Claro, Bogdan e Iulianka cresceram muito desde a nossa visita lá.
O trabalho na casa tem sido lento, diz Andriy, porque ele mesmo é obrigado a refazer muito do trabalho. "Todos os bom mestres deixaram a Ucrância para trabalhar em outros países." Portanto, nos últimos 6 mêses, ele tem feito tudo sozinho, depois de sair do seu trabalho regular no central nuclear.
E o que tem isto a ver com o título acima? Alguém que estava a falar com umas pessoas que conhecemos e com que tivemos contactos na obra missionária 25-30 anos atrás foi informado que naqueles primeiros anos o boato foi espalhado que eu era um agente da CIA que veio à Madeira como espião! Não é de admirar que foi difícil avançar na obra naquele tempo! E pensando naqueles tempos, não seria estranho que algumas pessoas assim pensassem. Quando chegámos em 1976, as forças da esquerda estavam ainda muito activas em Portugal depois da revolução de 1974 que derrubou o regime fascista. A regras muito rígidas do fascismo cederam não somente a um clima de liberdade, mas a um ambiente de libertinagem. Os passeios estavam cheios de mesas onde dois tipos de literatura, antes proíbidos, proliferaram: pornografia e propaganda comunista.
No dia 3 de Dezembro, marcámos o 31º aniversário da nossa chegada a uma ilha sobre a qual não sabíamos nada. Nem sequer tínhamos lugar reservado para passar a noite. Aterrámos às 20h30 e um senhor no aeroporto sugeriu uma pensão em Santa Cruz, a vila mais próxima. Na manhã seguinte, ao conhecer o nosso novo "lar", reparámos numa pequena barraca no quintal. Pintada vermelho, estava coberta de dizeres em amarelo. A sigla "MRPP" não significava nada para nós, mas o martelo e foice já era indício de alguma ligação comunista. Ficámos a saber que o irmão da dona da pensão era Arnaldo Matos, o líder do partido comunista-maoista, e que um mês e pouco antes da nossa chegada, estava envolvido nas primeiras eleições autómomas regionais depois da revolução de 25 de Abril. Quem diz que Deus não tem um sentido de humor? De todos os lugares onde poderíamos ter ficado nos primeiros dois meses na Madeira!
O facto curioso é que já é a segunda vez nos últimos meses que esta notícia chegou aos nossos ouvidos, da nossa suposta conexão "CIA". Ouvimos a história de uma fonte completamente diferente, mas de alguém que nos conheceu e que conheceu outros que eram nossos conhecidos no final dos anos 70 e início dos anos 80. Pela boca de duas ou três testemunhas, mandou a lei, seja toda a palavra confirmada. Por isso cremos que realmente houve estes boatos. Talvez isso explique porque alguns com quem procurámos trabalhar de repente "perderam interesse" na igreja e no evangelho. Então, vamos acrescentar "CIA" à lista dos rótulos que as pessoas colocaram em nós, no intúito de afastar pessoas do trabalho--- fomos acusados de ter trazido "uma religião do diabo" e de sermos "calvinistas"---mas este último é outra história para outra altura.
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