Em 11 de Setembro, 2001, data dos atentados nos EUA, eu tinha trabalhado só 7 meses como agente consular. Naquelas primeiras horas e dias de confusão, ninguém sabia o que aconteceria em seguida, ou se algo mais estava por acontecer. Em seguimento da política desenvolvida pelo Departamento do Estado dos EUA, recebi um telefonema do meu supervisor, o Cônsul-Geral em Lisboa. Americanos, em geral, e especialmente os que estavam directamente identificado com o Dept. do Estado ou o Governo Americano, eram tidos como estando em risco. Por isso, fui instruído para, entre outras coisas, "manter uma presença discreta", i.e., para não dar nas vistas. Não ri abertamente, mas achei imensa graça esta noção no meu caso.
Com 1,94m de altura, é impossível para mim andar pelas ruas do Funchal sem dar nas vistas. Quantas vezes minha altura me deu problemas, ao bater com a cabeça em casas mais antigas, construídas com portas que nem 1,80m não têm?! Além disso, em 15 anos de dar aulas de Inglês, tive mais de mil alunos, e durante mais de 10 anos tivemos uma livraria e papelaria num centro comercial no coração da cidade. Tanta gente nos conhece, mesmo nós não reconhecendo a eles. "Mantenha uma presença discreta." Pensei eu -- Talvez se andasse a gatinhar pelas ruas, ninguém notava.
Seria inútil. As pessoas aqui sempre repararam em nós. Logo no início, éramos diferentes, e não pela côr da pele---a Madeira fica próxima à África, mas foi colonizada pelos portugueses, e quando cá chegámos em 1976, houve muito poucas pessoas de côr aqui (só me lembro de uns 4 ou 5), uma situação que já mudou com a chegada de muitos imigrantes---mas era que fomos dos poucos americanos na ilha, e a única família americana jovem com crianças, e porque fomos os primeiros baptistas a vir à Madeira. Poucas pessoas tinham ouvido falar de baptistas antes de chegarmos.
Talvez o que mais ilustra a singularidade da nossa presença naqueles primeiros anos, foi a recepção de um postal (deve ter sido por volta de 1980). Escrito em Alemão, o postal informara que o remetente e esposa nos veriam dentro de 15 dias. A essa altura, eu já tinha estudado Alemão, mas não conseguia obter mais informação do postal, e em verdade, pouco mais informação havia nele. Procurei identificar o remetente com algum turista alemão que pudesse ter visitado aos cultos em Inglês, mas sem sucesso. Estudei o postal com mais atenção: fora enviado do Algarve, e olhei bem para o destinatário, "Bernhard Potter"...e estas duas palavras formaram a totalidade do endereço de destino---não havia rua, nem cidade, nem país, somente o nome de uma pessoa. De repente fez sentido: o postal não era para mim. Um turista alemão de férias no Algarve comprou postais para enviar aos amigos e familiares na Alemanha, mandou as frases de sempre "tempo maravilhoso...a gente se vê em 15 dias...," etc., e esqueceu-se de completar o endereço em baixo do nome do seu amigo, Bernhard Potter. Deitou o postal nos correios assim mesmo, e os correios entregaram o postal ao único Potter que conheciam em Portugal. (Bernhard? Edgar? Qual o problema? Não é Potter, na mesma?) Realmente os correios merecem uma salva de palmas com aquele esforço...hoje em dia, nem com morada completa conseguem entregar a correspondência, às vezes.
As implicações na obra missionária são evidentes. Quando estava no continente em Novembro, falei a um grupo de alunos do Seminário Baptista sobre missões pioneiras e a implantação de igrejas. Um dos pontos é que, para o povo a quem queremos alcançar, o missionário e a sua família estabelecem os padrões e se tornam em exemplos vivos da "nova religião". Para o bem ou para o mal, as nossas vidas definiram "Baptista" nas mentes dos madeirenses, que nunca tinham ouvido falar de Baptistas antes, muito menos visto algum.
A nossa filha mais nova, Joy, nasceu na Madeira e estudou aqui até completar o 12º ano. No seu blog (em Inglês), ela descreveu em parte o que ela sentiu neste papel, onde não podia deixar de dar nas vistas. Ela entitulou o seu artigo "Where everybody knows your name...or your address..." (Onde todos sabem o teu nome...ou a tua morada...)
Curioso foi, que na tarde de 11 de Setembro, poucas horas depois da queda das torres gêmeas em Nova Iorque, um agente da PSP foi destacado para "guardar" a nossa casa como medida de precaução. A RTP também veio para fazer uma entrevista, que foi filmada dentro de casa. Mas quando a entrevista passou no Telejornal naquela noite, lá estava uma imagem bem clara da nossa casa (a casa descrita por Joy como, "A Casa Branca na Encosta em que os Carros Batem"). Talvez a RTP teve um propósito em mostrar a casa na reportagem: caso os terroristas estivessem interessados em fazer explodir a nossa casa, era importante assegurar que não se enganassem no alvo.
Notícias da Igreja Baptista do Funchal e informações sobre o trabalho do evangelho na Ilha da Madeira
sábado, janeiro 19, 2008
quarta-feira, janeiro 16, 2008
Ele disse, Ela disse (2)
Dando continuidade ao pensamento do artigo anterior, e para que ninguém pense que não existe uma saída desta vida a não ser com dúvidas, desespero, e derrotas, senti que devia acrescentar as "últimas palavras" de alguém que não estava incluído no livro que li. Estas palavras foram registadas em um outro Livro:
"Porque já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda." -- O Apóstolo Paulo, 2 Tim. 4:6-8
Ou, seja, "Valeu a pena."
"Porque já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda." -- O Apóstolo Paulo, 2 Tim. 4:6-8
Ou, seja, "Valeu a pena."
terça-feira, janeiro 15, 2008
Ele disse, Ela disse
Coisa rara: li um livro de uma só vez... 150+ capítulos. Antes de ficar muito impressionado com a minha capacidade de ler, devo explicar que os capítulos eram curtos, de modo geral pouco mais de uma frase ou meia dúzia de linhas. O título do livro explica tudo: "Famous Last Words: Fond Farewells, Deathbed Diatribes and Exclamations upon Expiration", compiled by Ray Robinson. (Em Português, algo como, "Últimas Palavras Famosas: Despedidas, Diatribes e Exclamações feitas na hora da morte.")
Ganhei o livro como oferta de Natal de um dos membros da igreja. O livro se apresenta como colectânea das últimas palavras registadas de pessoas famosas (e de outras desconhecidas), e os sentimentos vão desde o humorístico (mesmo à porta da morte) até ao desespero (bilhetes deixados por pessoas suicidas), enquanto algumas palavras não são nada profundas, especialmente porque a pessoa foi chamada desta vida inesperadamente enquanto estava a falar ou trabalhar.
A frase que talvez chamasse mais a minha atenção foram as palavras atribuídas a Louis B. Mayer, magnata da indústria cinematográfica (MGM). À beira da morte no hospital, ele disse, "It wasn't worth it." (Não valeu a pena.)
Sem mais contexto, só posso concluir que ele se referia à vida, que a vida não valeu a pena. Há quase 3000 anos atrás, o escritor de Eclesiastes chegou à mesma conclusão: "Vaidade de vaidades; tudo é vaidade." E Jesus explicou em palavras muito claras, "Pois o que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? ou o que dará o homem em recompensa da sua alma?" Mt. 16:26
O que diria eu se soubesse que o meu tempo tinha chegado? Quais serão as últimas palavras de cada um de vós que lê estas linhas? Quão triste é pensar que alguém chegue ao fim da vida e não ter mais nada a dizer do que, "Não valeu a pena. -- It wasn't worth it."
Ganhei o livro como oferta de Natal de um dos membros da igreja. O livro se apresenta como colectânea das últimas palavras registadas de pessoas famosas (e de outras desconhecidas), e os sentimentos vão desde o humorístico (mesmo à porta da morte) até ao desespero (bilhetes deixados por pessoas suicidas), enquanto algumas palavras não são nada profundas, especialmente porque a pessoa foi chamada desta vida inesperadamente enquanto estava a falar ou trabalhar.
A frase que talvez chamasse mais a minha atenção foram as palavras atribuídas a Louis B. Mayer, magnata da indústria cinematográfica (MGM). À beira da morte no hospital, ele disse, "It wasn't worth it." (Não valeu a pena.)
Sem mais contexto, só posso concluir que ele se referia à vida, que a vida não valeu a pena. Há quase 3000 anos atrás, o escritor de Eclesiastes chegou à mesma conclusão: "Vaidade de vaidades; tudo é vaidade." E Jesus explicou em palavras muito claras, "Pois o que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? ou o que dará o homem em recompensa da sua alma?" Mt. 16:26
O que diria eu se soubesse que o meu tempo tinha chegado? Quais serão as últimas palavras de cada um de vós que lê estas linhas? Quão triste é pensar que alguém chegue ao fim da vida e não ter mais nada a dizer do que, "Não valeu a pena. -- It wasn't worth it."
domingo, janeiro 13, 2008
Atracção Não Fatal
A história se repete, segundo o ditado. Eu acho que não é bem assim; penso que as pessoas continuam a fazer os mesmos erros: tais como ir a um arraial, beber até não poder mais, e depois tentar fazer a curva em frente da nossa casa à 100 por hora às 5h30 de manhã. Em Junho de 2003, foi na Festa de São Pedro. Às 5h45 fomos acordados por um estrondo e fomos encontrar o nosso Opel verde de lado e totalmente destruído. Escrevi sobre isso aqui e inclui estas fotos em Junho passado, no 4º aniversário do acidente.
Agora é a Festa de Santo Amaro, e esta manhã foi às 5h30. Mesmo estrondo, mas o nosso Opel desta vez é vermelho, e não foi grandemente danificado. A diferença: mandámos erguer um pilar na esquina da propriedade, ao lado da entrada. Isto evitou que o carro "atacante" batesse directamente no carro vermelho. Com a velocidade em que vinha, teria destruído o Opel vermelho e provavelmente o outro cinzento estacionado ao lado (visível no canto inferior esquerdo da 1ª foto). Mas, desta vez, o pilar caiu contra a porta da bagageira e fez mossa, mas de resto está bem. O pilar terá de ser levantado, e o muro reconstruído (mais uma vez).
Esta é pelo menos a 6ª vez que fomos "vítimas" de acidentes nesta curva nos 30 anos que vivemos aqui. Três vezes, os nossos carros foram atingidos. Felizmente, qualquer atracção que existe não tem sido fatal até ao momento.
Agora é a Festa de Santo Amaro, e esta manhã foi às 5h30. Mesmo estrondo, mas o nosso Opel desta vez é vermelho, e não foi grandemente danificado. A diferença: mandámos erguer um pilar na esquina da propriedade, ao lado da entrada. Isto evitou que o carro "atacante" batesse directamente no carro vermelho. Com a velocidade em que vinha, teria destruído o Opel vermelho e provavelmente o outro cinzento estacionado ao lado (visível no canto inferior esquerdo da 1ª foto). Mas, desta vez, o pilar caiu contra a porta da bagageira e fez mossa, mas de resto está bem. O pilar terá de ser levantado, e o muro reconstruído (mais uma vez).
Esta é pelo menos a 6ª vez que fomos "vítimas" de acidentes nesta curva nos 30 anos que vivemos aqui. Três vezes, os nossos carros foram atingidos. Felizmente, qualquer atracção que existe não tem sido fatal até ao momento.
sábado, janeiro 12, 2008
Posto no olho da rua
(Publicado em Inglês, no blog Facets of Madeira, em 08/01/08)
Ontem, por volta das 20h00, o telefone tocou. O número que apareceu no visor indicou que a chamada vinha de Santa Cruz, onde moramos, mas a voz era estranha e o Português muito carregado. Percebendo a minha confusão, o outro começou a falar em Russo/Ucraniano, o que não ajudou muito, pois não me lembrava de nenhum russo ou ucraniano em Santa Cruz que eu conhecia. A pessoa estava muito perturbada, o que dificultava ainda mais a conversa. Finalmente percebi: era Misha, um dos reclusos ucranianos que assiste às reuniões semanais na prisão.
Mas acabava de estar com ele e mais dois entre as 16h30 e 17h30! Agora, às 20h00, ele me dizia que estava no aeroporto, e nas duas horas desde que o deixei na prisão, ele foi mandado ir à cela, buscar as suas coisas, e ir para casa! Para casa?! Ucrânia...!
Disse-lhe para sentar-se e esperar lá, que eu logo iria buscá-lo. "Sentar" quieto era a última coisa que ele conseguia fazer. Ele estava num estado de choque. Um guarda lhe deu uma boleia até ao aeroporto, mas ele não tinha bilhete, nem reservas, só €300, e um papel do tribunal dizendo que ele tinha 30 dias para abandonar o país e fixar residência na Ucrânia! Misha foi preso no continente e passou 4 anos na prisão lá antes de ser transferido para a Madeira há 2 anos e 7 meses atrás. Ele não conhecia ninguém aqui...nunca trabalhou aqui...nunca viveu aqui. No seu desespero, ligou para mim, a única pessoa que conhece fora da prisão na Madeira.
Estava nervoso e preocupado. Não tinha lugar para passar a noite e não via maneira de chegar em casa. Repetia sempre, "Eu não sabe ninguém...eu não sabe nada aqui", ou "Não posso acreditar. É um sonho." (Cf. Salmo 126:1) No quintal da nossa casa, já de noite e um chuvisco a cair, ele passava as mãos sobre as folhas molhadas dos cardeais... "Há mais de 6 anos que não posso tocar em flores."
Aproveitámos e o levámos num passeio rápido até o Funchal e de volta...ele só tinha visto imagens da ilha na TV, e agora pela primeira vez, era algo real, tangível. Oferecemos o uso do nosso apartamento e eu lhe disse que esta manhã iríamos a uma agência de viagens para arranjar um bilhete.
A caminho do Funchal esta manhã, pareceu-me que os seus olhos não estavam acostumados à luz do sol: ele estava sempre a tapar os olhos. Depois de estacionar, andámos até à agência de viagens. "Faz 6 anos e meio que não ando na rua de uma cidade," quase como dizer que teria que aprender fazê-lo de novo.
Na agência de viagens, nada parecia correr a favor no início. Para os primeiros 30 ou 45 minutos, a únicas opção era esperar mais uma semana para apanhar um voo directo Lisboa-Kiev (€385) ou pagar €590 para ir na 6ª-feira, mas via Alemanha e Polónia. Misha (alcunha de Mikhaylo---Miguel) estava muito desanimado. "Vou ter que voltar à prisão e bater na porta e pedir que me aceitem de novo...estou preocupado."
"Estou muito preocupado," dizia várias vezes.
Por fim, um dos voos directas semanais era hoje à noite, e havia lugar. Ele estaria em Kiev amanhã de manhã, e em casa (500 km de Kiev) até ao fim do dia. O dinheiro? Eu disse-lhe que eu pagaria o bilhete, e ele podia me dar €150, o que lhe deixaria algum dinheiro para a viagem dentro da Ucrânia. "Minha alma está a chorar," ele disse, obviamente emocionado pelo facto que estaria a ver a família amanhã. Suas filhas tinham 4 e 6 anos de idade quando as viu pela última vez quase 7 anos atrás. No telefone, a mais nova lhe tem dito que não se lembra do seu pai. "Eu não sabe o que vou fazer quando ver!" Mais uma preocupação.
Esta tarde no aeroporto, tudo correu bem no check-in. Misha saiu para Lisboa às 16h00, onde teria de esperar umas 5 horas antes de pegar o voo nocturno para Kiev. A esta hora, já deve ter saída, o que significa que dois dos quatro ucranianos no estudo bíblico semanal saíram desde o princípio do ano. Valeriy saiu na semana passada, com o novo Código Penal em vigor a facilitar a libertação de certos reclusos. Mas os dois ucranianos que ainda ficaram não estarão de saída tão logo. Alex e Oleg estão ambos com um pena de 18 anos, e terão de servir metade antes de poder ir embora. Um já está há 5 anos na prisão, o outro só 3. Penso vê-los muitas vezes antes de irem para casa.
Notas:
1) Uma situação semelhante ocorreu em 2005 com Romeo. Foi interessante ver as semelhanças quando re-li o artigo. (Artigo do blog em Inglês, que não foi traduzido para este blog.)
2) Foi Misha que me deu um desenho para Natal no ano passado. Pode clicar aqui para ver uma foto tirada de mais perto. Agora que ele estava na casa de imprevisto, pedi que ele ficasse ao lado da sua obra para eu tirar uma foto. Ele ficou muito acanhado, mas no fim acordou, e aqui está:
Esta manhã, Misha me disse que estudou arte no liceu, pintura, desenho, escultura. Mas como não tinha dinheiro para continuar os estudos a nível superior, fez um curso profissional em soldadura, trabalho de que não gosta nada, mas foi o que podia encontrar. Eu oro que ele não somente continue a trazer no seu coração a Palavra de Deus, mas que Deus permita que ele possa exprimir o seu amor pela beleza e arte de alguma forma quando chegar em casa. Estou resignado ao facto de que provavelmente nunca vamos saber nesta vida o que acontecer na vida de Misha daqui para frente. Não será fácil para ele voltar a uma cultura fortemente ortodoxa e seguir a Bíblia, mas o entregámos ao Senhor para que Ele cuide de Misha. As suas orações são muito apreciadas.
Ontem, por volta das 20h00, o telefone tocou. O número que apareceu no visor indicou que a chamada vinha de Santa Cruz, onde moramos, mas a voz era estranha e o Português muito carregado. Percebendo a minha confusão, o outro começou a falar em Russo/Ucraniano, o que não ajudou muito, pois não me lembrava de nenhum russo ou ucraniano em Santa Cruz que eu conhecia. A pessoa estava muito perturbada, o que dificultava ainda mais a conversa. Finalmente percebi: era Misha, um dos reclusos ucranianos que assiste às reuniões semanais na prisão.
Mas acabava de estar com ele e mais dois entre as 16h30 e 17h30! Agora, às 20h00, ele me dizia que estava no aeroporto, e nas duas horas desde que o deixei na prisão, ele foi mandado ir à cela, buscar as suas coisas, e ir para casa! Para casa?! Ucrânia...!
Disse-lhe para sentar-se e esperar lá, que eu logo iria buscá-lo. "Sentar" quieto era a última coisa que ele conseguia fazer. Ele estava num estado de choque. Um guarda lhe deu uma boleia até ao aeroporto, mas ele não tinha bilhete, nem reservas, só €300, e um papel do tribunal dizendo que ele tinha 30 dias para abandonar o país e fixar residência na Ucrânia! Misha foi preso no continente e passou 4 anos na prisão lá antes de ser transferido para a Madeira há 2 anos e 7 meses atrás. Ele não conhecia ninguém aqui...nunca trabalhou aqui...nunca viveu aqui. No seu desespero, ligou para mim, a única pessoa que conhece fora da prisão na Madeira.
Estava nervoso e preocupado. Não tinha lugar para passar a noite e não via maneira de chegar em casa. Repetia sempre, "Eu não sabe ninguém...eu não sabe nada aqui", ou "Não posso acreditar. É um sonho." (Cf. Salmo 126:1) No quintal da nossa casa, já de noite e um chuvisco a cair, ele passava as mãos sobre as folhas molhadas dos cardeais... "Há mais de 6 anos que não posso tocar em flores."
Aproveitámos e o levámos num passeio rápido até o Funchal e de volta...ele só tinha visto imagens da ilha na TV, e agora pela primeira vez, era algo real, tangível. Oferecemos o uso do nosso apartamento e eu lhe disse que esta manhã iríamos a uma agência de viagens para arranjar um bilhete.
A caminho do Funchal esta manhã, pareceu-me que os seus olhos não estavam acostumados à luz do sol: ele estava sempre a tapar os olhos. Depois de estacionar, andámos até à agência de viagens. "Faz 6 anos e meio que não ando na rua de uma cidade," quase como dizer que teria que aprender fazê-lo de novo.
Na agência de viagens, nada parecia correr a favor no início. Para os primeiros 30 ou 45 minutos, a únicas opção era esperar mais uma semana para apanhar um voo directo Lisboa-Kiev (€385) ou pagar €590 para ir na 6ª-feira, mas via Alemanha e Polónia. Misha (alcunha de Mikhaylo---Miguel) estava muito desanimado. "Vou ter que voltar à prisão e bater na porta e pedir que me aceitem de novo...estou preocupado."
"Estou muito preocupado," dizia várias vezes.
Por fim, um dos voos directas semanais era hoje à noite, e havia lugar. Ele estaria em Kiev amanhã de manhã, e em casa (500 km de Kiev) até ao fim do dia. O dinheiro? Eu disse-lhe que eu pagaria o bilhete, e ele podia me dar €150, o que lhe deixaria algum dinheiro para a viagem dentro da Ucrânia. "Minha alma está a chorar," ele disse, obviamente emocionado pelo facto que estaria a ver a família amanhã. Suas filhas tinham 4 e 6 anos de idade quando as viu pela última vez quase 7 anos atrás. No telefone, a mais nova lhe tem dito que não se lembra do seu pai. "Eu não sabe o que vou fazer quando ver!" Mais uma preocupação.
Esta tarde no aeroporto, tudo correu bem no check-in. Misha saiu para Lisboa às 16h00, onde teria de esperar umas 5 horas antes de pegar o voo nocturno para Kiev. A esta hora, já deve ter saída, o que significa que dois dos quatro ucranianos no estudo bíblico semanal saíram desde o princípio do ano. Valeriy saiu na semana passada, com o novo Código Penal em vigor a facilitar a libertação de certos reclusos. Mas os dois ucranianos que ainda ficaram não estarão de saída tão logo. Alex e Oleg estão ambos com um pena de 18 anos, e terão de servir metade antes de poder ir embora. Um já está há 5 anos na prisão, o outro só 3. Penso vê-los muitas vezes antes de irem para casa.
Notas:
1) Uma situação semelhante ocorreu em 2005 com Romeo. Foi interessante ver as semelhanças quando re-li o artigo. (Artigo do blog em Inglês, que não foi traduzido para este blog.)
2) Foi Misha que me deu um desenho para Natal no ano passado. Pode clicar aqui para ver uma foto tirada de mais perto. Agora que ele estava na casa de imprevisto, pedi que ele ficasse ao lado da sua obra para eu tirar uma foto. Ele ficou muito acanhado, mas no fim acordou, e aqui está:
Esta manhã, Misha me disse que estudou arte no liceu, pintura, desenho, escultura. Mas como não tinha dinheiro para continuar os estudos a nível superior, fez um curso profissional em soldadura, trabalho de que não gosta nada, mas foi o que podia encontrar. Eu oro que ele não somente continue a trazer no seu coração a Palavra de Deus, mas que Deus permita que ele possa exprimir o seu amor pela beleza e arte de alguma forma quando chegar em casa. Estou resignado ao facto de que provavelmente nunca vamos saber nesta vida o que acontecer na vida de Misha daqui para frente. Não será fácil para ele voltar a uma cultura fortemente ortodoxa e seguir a Bíblia, mas o entregámos ao Senhor para que Ele cuide de Misha. As suas orações são muito apreciadas.
Acusação Falsa
(Publicado em Inglês, no blog Facets of Madeira, em 27/12/07)
Chegámos em casa muito tarde na véspera de Natal (de facto, já eram 2 horas de manhã do dia 25), depois do culto na igreja com a cantata, seguido de um jantar (tipo consoada) em casa de José Carlos e Marcia. Quando fui ver o e-mail, descobri que não havia sinal DSL no router. Como ninguém iria fazer nada no Dia de Natal, e nós iríamos passar a tarde com outra família da igreja, só ontem (dia 26) liguei para Telepac. Após os testes todos---desligar isso, reconfigurar aquilo, e tentar fazer re-set---o técnico pronunciou a morte do meu router. Vão me enviar um outro, e até lá, estarei sem internet ou e-mail em casa. (Tenho de recorrer à ligação no escritório.)
Mas quase esperava ouvir do outro lado da linha: "Bem, é assim. A sua esposa nos ligou e pediu que desligássemos o seu serviço internet durante estes dias de festa. É a oferta de Natal dela. Boas Festas!" Na minha imaginação, eu estava a acusar Abbie falsamente; mesmo assim, fico na dúvida: se fosse verdade, a oferta dela seria para mim ou para si mesma?
12 Jan -- P.S. Depois de aguardar uns dias sem receber no novo router, liguei a Telepac, que informou que já não há este tipo de router em estoque. (A minha linha é RDIS e exige um router específico.) Só então me lembrei do modem que usava antes de receber o router sem fios...voilá! Ainda funciona, só que de momento, estou sem Wi-Fi em casa.
Chegámos em casa muito tarde na véspera de Natal (de facto, já eram 2 horas de manhã do dia 25), depois do culto na igreja com a cantata, seguido de um jantar (tipo consoada) em casa de José Carlos e Marcia. Quando fui ver o e-mail, descobri que não havia sinal DSL no router. Como ninguém iria fazer nada no Dia de Natal, e nós iríamos passar a tarde com outra família da igreja, só ontem (dia 26) liguei para Telepac. Após os testes todos---desligar isso, reconfigurar aquilo, e tentar fazer re-set---o técnico pronunciou a morte do meu router. Vão me enviar um outro, e até lá, estarei sem internet ou e-mail em casa. (Tenho de recorrer à ligação no escritório.)
Mas quase esperava ouvir do outro lado da linha: "Bem, é assim. A sua esposa nos ligou e pediu que desligássemos o seu serviço internet durante estes dias de festa. É a oferta de Natal dela. Boas Festas!" Na minha imaginação, eu estava a acusar Abbie falsamente; mesmo assim, fico na dúvida: se fosse verdade, a oferta dela seria para mim ou para si mesma?
12 Jan -- P.S. Depois de aguardar uns dias sem receber no novo router, liguei a Telepac, que informou que já não há este tipo de router em estoque. (A minha linha é RDIS e exige um router específico.) Só então me lembrei do modem que usava antes de receber o router sem fios...voilá! Ainda funciona, só que de momento, estou sem Wi-Fi em casa.
Pela boca de duas ou três testemunhas...
(Publicado em Inglês, no blog Facets of Madeira, em 21/12/07)
Embora tivesse oportunidade de escrever ontem, não expliquei a razão do longo silêncio das semanas anteriores. Há sempre a desculpa que toda a gente tem nesta época do ano, que andamos muito ocupados, e para nós, isto significa mais ensaios para a cantata de Natal, que o nosso coro pequeno vai cantar na noite do dia 24. O trabalho no consulado não tem sido muito exigente, embora esta semana houve a volta habitual do corpo consular para apresentar cumprimentos às entidades governamentais e militares. O que me prendeu, de facto, foi um trabalho de tradução maior do que inicialmente previsto, que me levou a trabalhar nele 85 horas em menos de 6 dias para poder fazer a entrega no prazo combinado. Aparentemente o cliente estava satisfeito com o trabalho...na outra semana enviou mais trabalho do mesmo, mas cerca de um terço do tamanho da primeira parte, e já aprendi a pedir um prazo mais longo, de modo que o stress neste trabalho não era tanto.
Aniversário... neste período de tempo, arranjei um dia para ficar mais velho. Agora posso me defender da acusação de ter 60 anos. Já não tenho. Houve cumprimentos de feliz aniversário daquelas pessoas que já sabemos que vão se lembrar...uma das primeiras mensagens era um e-mail da mãe. (Afinal, não seria ela que me conhece mais tempo do que qualquer outra pessoa?) E umas surpresas, também: um telefonema de um pastor nos EUA em Providence, RI, e um e-mail de Andriy, o médico ucraniano que viveu e trabalhou aqui durante 4 anos, mais ou menos. Voltou para a Ucrânia há 3 anos, e visitámo-lo e a sua família quando lá estivemos em 2005. Depois perdemos o contacto...até esta mensagem para os meus anos. Que alegria! Que surpresa! E a sua família cresceu também, além de se ter começado com a construção da sua própria casa. As notícias de Andriy foram uma oferta preciosíssima para o meu dia de anos.
O trabalho na casa tem sido lento, diz Andriy, porque ele mesmo é obrigado a refazer muito do trabalho. "Todos os bom mestres deixaram a Ucrância para trabalhar em outros países." Portanto, nos últimos 6 mêses, ele tem feito tudo sozinho, depois de sair do seu trabalho regular no central nuclear.
E o que tem isto a ver com o título acima? Alguém que estava a falar com umas pessoas que conhecemos e com que tivemos contactos na obra missionária 25-30 anos atrás foi informado que naqueles primeiros anos o boato foi espalhado que eu era um agente da CIA que veio à Madeira como espião! Não é de admirar que foi difícil avançar na obra naquele tempo! E pensando naqueles tempos, não seria estranho que algumas pessoas assim pensassem. Quando chegámos em 1976, as forças da esquerda estavam ainda muito activas em Portugal depois da revolução de 1974 que derrubou o regime fascista. A regras muito rígidas do fascismo cederam não somente a um clima de liberdade, mas a um ambiente de libertinagem. Os passeios estavam cheios de mesas onde dois tipos de literatura, antes proíbidos, proliferaram: pornografia e propaganda comunista.
No dia 3 de Dezembro, marcámos o 31º aniversário da nossa chegada a uma ilha sobre a qual não sabíamos nada. Nem sequer tínhamos lugar reservado para passar a noite. Aterrámos às 20h30 e um senhor no aeroporto sugeriu uma pensão em Santa Cruz, a vila mais próxima. Na manhã seguinte, ao conhecer o nosso novo "lar", reparámos numa pequena barraca no quintal. Pintada vermelho, estava coberta de dizeres em amarelo. A sigla "MRPP" não significava nada para nós, mas o martelo e foice já era indício de alguma ligação comunista. Ficámos a saber que o irmão da dona da pensão era Arnaldo Matos, o líder do partido comunista-maoista, e que um mês e pouco antes da nossa chegada, estava envolvido nas primeiras eleições autómomas regionais depois da revolução de 25 de Abril. Quem diz que Deus não tem um sentido de humor? De todos os lugares onde poderíamos ter ficado nos primeiros dois meses na Madeira!
O facto curioso é que já é a segunda vez nos últimos meses que esta notícia chegou aos nossos ouvidos, da nossa suposta conexão "CIA". Ouvimos a história de uma fonte completamente diferente, mas de alguém que nos conheceu e que conheceu outros que eram nossos conhecidos no final dos anos 70 e início dos anos 80. Pela boca de duas ou três testemunhas, mandou a lei, seja toda a palavra confirmada. Por isso cremos que realmente houve estes boatos. Talvez isso explique porque alguns com quem procurámos trabalhar de repente "perderam interesse" na igreja e no evangelho. Então, vamos acrescentar "CIA" à lista dos rótulos que as pessoas colocaram em nós, no intúito de afastar pessoas do trabalho--- fomos acusados de ter trazido "uma religião do diabo" e de sermos "calvinistas"---mas este último é outra história para outra altura.
Embora tivesse oportunidade de escrever ontem, não expliquei a razão do longo silêncio das semanas anteriores. Há sempre a desculpa que toda a gente tem nesta época do ano, que andamos muito ocupados, e para nós, isto significa mais ensaios para a cantata de Natal, que o nosso coro pequeno vai cantar na noite do dia 24. O trabalho no consulado não tem sido muito exigente, embora esta semana houve a volta habitual do corpo consular para apresentar cumprimentos às entidades governamentais e militares. O que me prendeu, de facto, foi um trabalho de tradução maior do que inicialmente previsto, que me levou a trabalhar nele 85 horas em menos de 6 dias para poder fazer a entrega no prazo combinado. Aparentemente o cliente estava satisfeito com o trabalho...na outra semana enviou mais trabalho do mesmo, mas cerca de um terço do tamanho da primeira parte, e já aprendi a pedir um prazo mais longo, de modo que o stress neste trabalho não era tanto.
Aniversário... neste período de tempo, arranjei um dia para ficar mais velho. Agora posso me defender da acusação de ter 60 anos. Já não tenho. Houve cumprimentos de feliz aniversário daquelas pessoas que já sabemos que vão se lembrar...uma das primeiras mensagens era um e-mail da mãe. (Afinal, não seria ela que me conhece mais tempo do que qualquer outra pessoa?) E umas surpresas, também: um telefonema de um pastor nos EUA em Providence, RI, e um e-mail de Andriy, o médico ucraniano que viveu e trabalhou aqui durante 4 anos, mais ou menos. Voltou para a Ucrânia há 3 anos, e visitámo-lo e a sua família quando lá estivemos em 2005. Depois perdemos o contacto...até esta mensagem para os meus anos. Que alegria! Que surpresa! E a sua família cresceu também, além de se ter começado com a construção da sua própria casa. As notícias de Andriy foram uma oferta preciosíssima para o meu dia de anos.
Andriy a segurar Anushka, o mais novo membro da família. Claro, Bogdan e Iulianka cresceram muito desde a nossa visita lá.
O trabalho na casa tem sido lento, diz Andriy, porque ele mesmo é obrigado a refazer muito do trabalho. "Todos os bom mestres deixaram a Ucrância para trabalhar em outros países." Portanto, nos últimos 6 mêses, ele tem feito tudo sozinho, depois de sair do seu trabalho regular no central nuclear.
E o que tem isto a ver com o título acima? Alguém que estava a falar com umas pessoas que conhecemos e com que tivemos contactos na obra missionária 25-30 anos atrás foi informado que naqueles primeiros anos o boato foi espalhado que eu era um agente da CIA que veio à Madeira como espião! Não é de admirar que foi difícil avançar na obra naquele tempo! E pensando naqueles tempos, não seria estranho que algumas pessoas assim pensassem. Quando chegámos em 1976, as forças da esquerda estavam ainda muito activas em Portugal depois da revolução de 1974 que derrubou o regime fascista. A regras muito rígidas do fascismo cederam não somente a um clima de liberdade, mas a um ambiente de libertinagem. Os passeios estavam cheios de mesas onde dois tipos de literatura, antes proíbidos, proliferaram: pornografia e propaganda comunista.
No dia 3 de Dezembro, marcámos o 31º aniversário da nossa chegada a uma ilha sobre a qual não sabíamos nada. Nem sequer tínhamos lugar reservado para passar a noite. Aterrámos às 20h30 e um senhor no aeroporto sugeriu uma pensão em Santa Cruz, a vila mais próxima. Na manhã seguinte, ao conhecer o nosso novo "lar", reparámos numa pequena barraca no quintal. Pintada vermelho, estava coberta de dizeres em amarelo. A sigla "MRPP" não significava nada para nós, mas o martelo e foice já era indício de alguma ligação comunista. Ficámos a saber que o irmão da dona da pensão era Arnaldo Matos, o líder do partido comunista-maoista, e que um mês e pouco antes da nossa chegada, estava envolvido nas primeiras eleições autómomas regionais depois da revolução de 25 de Abril. Quem diz que Deus não tem um sentido de humor? De todos os lugares onde poderíamos ter ficado nos primeiros dois meses na Madeira!
O facto curioso é que já é a segunda vez nos últimos meses que esta notícia chegou aos nossos ouvidos, da nossa suposta conexão "CIA". Ouvimos a história de uma fonte completamente diferente, mas de alguém que nos conheceu e que conheceu outros que eram nossos conhecidos no final dos anos 70 e início dos anos 80. Pela boca de duas ou três testemunhas, mandou a lei, seja toda a palavra confirmada. Por isso cremos que realmente houve estes boatos. Talvez isso explique porque alguns com quem procurámos trabalhar de repente "perderam interesse" na igreja e no evangelho. Então, vamos acrescentar "CIA" à lista dos rótulos que as pessoas colocaram em nós, no intúito de afastar pessoas do trabalho--- fomos acusados de ter trazido "uma religião do diabo" e de sermos "calvinistas"---mas este último é outra história para outra altura.
Uma Obsessão de Lavar os Dentes
(Publicado em Inglês, no blog Facets of Madeira, em 20/12/07)
5ª-feira de manhã. Hoje tive de me levantar mais cedo porque todas as 5ªs de manhã dou uma aula particular de Inglês antes de ir ao consulado. Um olho estava sempre no relógio, porque uma saída de casa atrasada em alguns minutos pode obrigar-me a uma viagem até ao Funchal que leve uns 20 minutos a mais (é assim, à sua própria maneira e à sua própria escala, o Funchal também tem engarrafamentos de hora de ponta). Estáva na hora de sair...em verdade, já deveria ter ido...mas senti um forte desejo irresistível de lavar os dentes. Por quê? Lavei-os antes de ir para a cama, e ainda não tinha comido nada desde que me levantei. Debati comigo mesmo: dentes lavados ou trânsito livre? Eu TINHA DE lavar os dentes, e a razão foi que---o meu aluno das 5ªs é o meu dentista.
Com um profundo sentido de dever, lavei os dentes, sabendo o tempo todo que o bom médico, que é amigo também, não iria verificar os meus dentes. Durante essa hora, ele está mais preocupado com a sua pronúncia de Inglês (o que sai da sua própria boca) do que com a minha higiene oral (a bactéria que poderia estar escondida na minha boca). Foi simplesmente a ideia de que estaria na presença do meu dentista que me fez gastar mais um minuto ou dois antes de sair de casa. E enquanto lavava os dentes, reflecti sobre esse sentimento de necessidade, e fiz uma aplicação espiritual. Um dia não vai ser perante o dentista que hei de comparecer, mas perante o próprio Senhor; com certeza, a minha maior preocupação não vai ser o estado dos meus dentes. O Salmista já sentiu o mesmo: "Quem subirá ao monte do Senhor, ou quem estará no seu lugar santo? Aquele que é limpo de mãos e puro de coração..." (Sal. 24:3-4)
Senhor, põe em me sempre este desejo irresistível de manter o meu coração limpo e puro perante Ti.
5ª-feira de manhã. Hoje tive de me levantar mais cedo porque todas as 5ªs de manhã dou uma aula particular de Inglês antes de ir ao consulado. Um olho estava sempre no relógio, porque uma saída de casa atrasada em alguns minutos pode obrigar-me a uma viagem até ao Funchal que leve uns 20 minutos a mais (é assim, à sua própria maneira e à sua própria escala, o Funchal também tem engarrafamentos de hora de ponta). Estáva na hora de sair...em verdade, já deveria ter ido...mas senti um forte desejo irresistível de lavar os dentes. Por quê? Lavei-os antes de ir para a cama, e ainda não tinha comido nada desde que me levantei. Debati comigo mesmo: dentes lavados ou trânsito livre? Eu TINHA DE lavar os dentes, e a razão foi que---o meu aluno das 5ªs é o meu dentista.
Com um profundo sentido de dever, lavei os dentes, sabendo o tempo todo que o bom médico, que é amigo também, não iria verificar os meus dentes. Durante essa hora, ele está mais preocupado com a sua pronúncia de Inglês (o que sai da sua própria boca) do que com a minha higiene oral (a bactéria que poderia estar escondida na minha boca). Foi simplesmente a ideia de que estaria na presença do meu dentista que me fez gastar mais um minuto ou dois antes de sair de casa. E enquanto lavava os dentes, reflecti sobre esse sentimento de necessidade, e fiz uma aplicação espiritual. Um dia não vai ser perante o dentista que hei de comparecer, mas perante o próprio Senhor; com certeza, a minha maior preocupação não vai ser o estado dos meus dentes. O Salmista já sentiu o mesmo: "Quem subirá ao monte do Senhor, ou quem estará no seu lugar santo? Aquele que é limpo de mãos e puro de coração..." (Sal. 24:3-4)
Senhor, põe em me sempre este desejo irresistível de manter o meu coração limpo e puro perante Ti.
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