Ao assistirmos as reportagens de CNN sobre a destruição causada pelo tornado em Joplin, Missouri, ouvimos mais do que um repórter dizer que tinha estado no Japão após o terramoto e tsunami, e as cenas eram iguais. Aonde quer que se olhava, todos os prédios tinham sido completamente arrasados, não restaram indicações de ruas ou lojas. Até os carros danificados e empilhados em Joplin nos fez lembrar das imagens do Japão que vimos. Então, qual é a diferença? A destruição é destruição; a morte é morte; o luto é luto. Mas houve uma grande diferença: já estivemos em Joplin e conhecemos a cidade.
Também, todos os dias vêm histórias de violência e assassínios nos jornais e na TV. Mesmo ontem, o diário publicou a notícia de um assassínio brutal que teve lugar no Domingo à tarde em Santa Cruz, a pequena villa onde comprámos a nossa casa e onde vivemos desde a nossa chegada à Madeira em 1976. Assassínios não são tão comum na ilha; o jornal não deu todos os pormenores, mas parecia ser do tipo de caso para aqueles jornais que gostam de dar preferência ao lado brutal da criminalidade. Um homem de 43 anos foi espancado até à morte com tal violência que a sua cara ficou quase irreconhecível. A polícia logo prendeu 3 homens que são conhecidos pela gente da vila como sendo maus. Um deles tem a alcunha de "o americano" porque foi aos EUA e meteu-se em drogas, foi preso, e no fim, foi deportado. Ele e os seus amigos têm uma má fama, como sendo violentos e metidos em drogas.
Na reunião na igreja esta noite, uma irmã que vive em Santa Cruz nos informou que o homem morto foi nosso vizinho, Ricardo. Ele e a nossa filha Raquel eram da mesma idade, e ele veio muitas vezes à nossa casa nos anos 80. Ele veio da Inglaterra para viver com a sua avó, e sempre falou connosco em Inglês...por isso sempre lhe chamamos, Richard. Naqueles tempos em que tínhamos cultos na vila, ele chegou a assistir várias vezes.
Durante algum tempo, os nossos caminhos não se cruzaram, mas nos últimos anos, especialmente após a morte da sua avó, começámos a ver Richard mais frequentemente. Mas era uma triste figura, fisica e emocionalmente falando. Tinha se metido em drogas; a sua saúde era tão frágil que mal conseguia andar. Convidámo-lo a vir à igreja connosco no Domingo...daríamos uma boleia se chamasse. Nunca chamou.
Todos os dias, Abbie anda 30-45 minutos e recentemente ela viu Richard vários dias em seguida. Ela o encorajou a continuar e sempre lhe disse que estávamos a orar por ele, que pudesse melhorar, e que viesse a assistir aos cultos na igreja. Ela sentiu um laço especialmente mais forte com ele, devido à sua idade e o passado de relações com a nossa família.
A última vez que Abbie o viu, Richard lhe disse que estava para ir à Inglaterra--"um primo o convidou a visitá-lo". Abbie ficou contente e disse-lhe que achava tal viagem lhe faria bem. Ele estava preocupado por causa da dificuldade em subir as escadas para entrar no avião, mas Abbie o encorajou a fazer o esforço para ir.
Segundo o que se consta, ele recebeu dinheiro para ir à Inglaterra comprar droga, mas quando chegou aqui, não tinha nem uma nem outra coisa. Richard era uma pessoa que a gente facilmente chegava a gostar, de ar meigo e fala branda. Os seus "amigos" não são tão simpáticos. É melhor nem falar da violência com que eles exmprimiram a sua raiva por terem ficado sem seu dinheiro e sem a droga. Criminosos de guerra são condenados por atrocidades menores.
A destruição no Japão foi horrível, mas nós conhecemos a Joplin. Todos os dias, as notícias falam de pessoas que são horrivelmente torturadas e mortas, mas nós conhecemos a Richard. Essa é a grande diferença.
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