sábado, maio 24, 2008

Dia 5 – 14 Maio – 4ª feira Dia de S. Patrick

(Há mais de uma semana que não conseguia uma ligação na Internet; agora vou procurar recuperar alguns dos relatos da nossa viagem pela Irlanda. Estas imagens são do tipo "thumbnail", portanto, se fizer um clique na imagem, pode ter uma imagem mais nítida.)

Com certeza, não sabia que este ano o dia de S. Patrick foi o 14 de Maio, em vez de 17 de Março. Para nós, nesta volta pela Irlanda, hoje foi dedicado a S. Patrick, e começámos com uma visita do Centro de S. Patrick em Downpatrick. Há uma apresentação da história dele, que no Sec. V foi raptado na Inglaterra quando adolescente, e levado à Irlanda, onde foi escravo durante 6 anos. Esta experiência o levou a procurar Deus, e quando ele escapou e voltou à Inglaterra, ele entrou no ministério. Sentiu a chamada de Deus para voltar à terra do seu cativeiro para anunciar o evangelho na ilha de Irlanda, que naquela altura era pagã. Embora hoje ele seja associado com a Igreja Católica Romana, convém lembrar que, no tempo em que ele viveu, o bispo de Roma ainda não tinha assumido o título de Papa. A sua mensagem foi muito centrada na Palavra de Deus. Eu saí com uma nova apreciação por aqueles crentes dos séculos passados—independentemente da língua que tivessem falado, ou a cultura em que tivessem vivido, ou o estilo de música com que louvaram a Deus—vi de uma maneira mais clara que eles amaram a Deus e buscavam o Senhor com o mesmo fervor e enfrentaram as mesmas lutas que nós hoje.

Visitámos a Catedral de Downpatrick, que está situada sobre um alto e é visível por muitos kilómetros em volta. Aqui é vista da Abadia de Inch, nome derivado da palavra gaélica que significa “island”, pois foi construída numa ilhota formada pela maré.



A abadia original tem muitos séculos, como esta pedra indica (do ano 1180). Como abadia em Inglês (“abbey”) tem a mesma pronúncia do nome de Abbie, ela queria fazer um trocadilho visual, colocando a sua carteira no buraco ao lado.









O lugar era perfeito para as primeiras fotos “oficiais” do grupo. Cary e Tracy Balzer, os líderes ;

Bob Kitchen e sua neta, Lora Clendenen;

Paul e Jacque Cauwels;




e eu e Abbie. Todos usámos as pedras de maneira vantajosa para posar. (Abbie até aproveitou para temporariamente ganhar uma posição de superioridade vertical.)

Jim e Janet Hobble são o outro casal no grupo, que está reunido nesta foto. E para constar: não fomos nós que destruímos o prédio---já estava assim quando chegámos!

Havia tantas espécies de pássaros a cantar ao mesmo tempo nas árvores em volta…era impossível distinguir exactamente quantas eram. Aí, ao lado de um lago tranquilo, com o sol quente e o silêncio quebrado somente pelo cantar dos pássaros e os risos de crianças a gozar a liberdade de movimento entre as pedras, este era um momento alto do dia.













Mais umas milhas, e chegámos a Saul, um lugar que foi dado a Patrick para uma igreja. Mas isto foi no Sec. V, e claro, embora este seja o sítio, o prédio é muito mais recente. Um aspecto óbvio é a torre alta, e muitas existem em toda a Irlanda, com meia dúzia talvez na Escócia e Inglaterra. Pensa-se que eram lugares de refúgio dos bandos de saqueadores, com portas uns 3m acima do chão. Assim, os refugiados entraram na torre, recolheram a escada, e fecharam a porta. Poderia haver outros usos, mas esta versão não soa mal.

































Dentro, uma cruz prateada parece resplandecer na escuridão, com uma representação de Patrick em vitral no fundo. Na verdade, é somente a luz que entra pela porta que é reflectida pelo metal. Faz-me lembrar das palavras de Paulo em Filipenses 2:15-16: “para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus imaculados no meio de uma geração corrupta e perversa, entre a qual resplandeceis como luminares no mundo, retendo a palavra da vida Mas a nossa luz é uma luz reflectida também, luz que vem d’Aquele que é a luz verdadeira, que morreu na cruz. A nossa luz pode não ser grande, mas numa geração perversa, mesmo uma pequena luz, fracamente reflectida, faz uma grande diferença.

Fora da igreja, uma lembrança de que o tempo passa: um cemitério com algumas pedras datadas de mais de 200 anos. Mas a morte traz declínio e ruína. As inscrições em muitas pedras já foram removidas pela acção climatérica; algumas estavam caindo para frente, outras para trás. A religião do homem, como um pau, tenta evitar a queda, mas é somente uma questão de tempo, e esta também há de ceder. Somente Cristo traz a vida eterna, e uma herança eterna e incorruptível (1 Pedro 1:4).

sábado, maio 17, 2008

Dia 4 - 13 de Maio - 3ª-feira: Físico? Quem, eu?

(Fazendo um clique em qualquer foto abre uma vista ampliada.)

Hoje oficicalmente começamos a nossa volta pela Irlanda. A primeira paragem foi o Castelo de Carrickfergus, e penso que esta é a única foto do castelo, que foi tirada quando íamos para lá.

O vento foi muito fresco, apesar do sol, e meio forte e talvez fosse por isso que Abbie estava a segurar bem na varanda. Até parece que os ventos predominantes fizeram com que a varanda ficasse torta. Olhando à praia em baixo do castelo, pode julgar-se que a maré estava baixa na altura que estávamos lá.

Daí, passámos mais para o norte até Larne, Whitehead, onde há um farol. Tirei umas fotos da paisagem no caminho para Whitehead, mas para os amantes de faróis, lamento...não há foto. Ir até ao farol envolvia uma subida que Abbie não podia fazer, e decidimos andar pela praia e apreciar as cores vibrantes em nossa volta.

O musgo junto do molhe (em cima) brilhava no sol, mas algumas das casas eram muito coloridas, também. Estamos a ver que as pessoas aqui na Irlanda não têm medo de pintar as suas casas de cores fortes.

A linha ferroviária passa pelo meio de Whitehead, e fomos obrigados a atravessá-la várias vezes, ou por baixo, ou em passagem de nível, ou ainda por meio da passadeira pedestre, como estas mulheres devem ter feito milhares de vezes já.

Encontrámos ainda estas flores que parecem quase ilumindas, e um quintal solarento.

Este estilo de trabalho em tijolo deve ter sido a moda em certa época, pois uma igreja na vizinhança tem o mesmo estilo de construção.

Mais tarde, depois do jantar, enquanto eu esperava pelos outros no nosso grupo, começei a conversar com um homem ao meu lado. Falámos da comida e depois donde somos, onde vivemos, e sem eu perceber, a sua esposa e três (acho eu) filhos juntaram-se a nós.

Era um prazer falar com esta família. Embora o tempo fosse breve, os rapazes mostraram-se muito bem comportados, e eles - pais e filhos - comunicaram um ar de ser uma família unida. A mãe tem família na Madeira, não muito próxima já, pois os seus avós saíram da Madeira, e foram para o Brasil há muitos anos atrás. Hoje ela é casada com um irlandês e vive em Belfast. No fim, fiquei a saber que durante o jantar eles tinham reparado no nosso grupo e tentaram adivinhar quem éramos e o que estávamos a fazer na Irlanda. O filho mais velho (12 - 13 anos?) tinham concluído que eu devia ser um físico. Bem, há muitas coisas piores que outros julgaram de mim, mas eu pergunto-me a mim se não era por causa do meu cabelo. Vejamos o caso de Einstein, por exemplo; era fácil ver que ele era físico pelo penteado dele. Abbie frequentemente me chama a atenção ao cabelo, se está bem penteado, ou não. Deve ter razão---ou não vão as pessoas pensar que sou um físico.

quinta-feira, maio 15, 2008

Luz e Sombra na Irlanda


As flores da Irlanda

Uma pequena amostra das flores que já encontrámos na Irlanda:



Alfazema em flor no quintal.






















Broughshane, onde passámos o fim de semana, orgulha-se que do facto de ter ganho
concursos entre cidades por ter os melhores jardims de flores.
Parece que tem ganho o 1º prémio muitos anos em seguida.








Algumas das flores no jardim botânico. Eu quase perdir Abbie na estufa, por causa da sua roupa de camuflagem.




































Em cima: (1º) Será que alguém possa explicar por quê há uma só tulipa na ultima fila nesta foto de grupo de tulipas amarelas?
(2º) Com o sol aberto, os estudantes da universidade apareceram no relvado como cogumelos que nascem após uma chuva.








Esq: Das flores que vimos hoje, estas eram as favoritas de Abbie, mas não sabemos o seu nome. As flores, tipo sineta, e as folhas coloridas pertencem à mesma planta. Alguém conhece o nome desta flor?








Dir: Esta cerejeira estava completamente coberta de flores. Tenho de voltar a visitar este lugar no verão quando ela estiver vermelha de fruto em vez de branca de flores.









quarta-feira, maio 14, 2008

Tirando o Atraso...

Desde a última vez que escrevi, tivemos mais uma profissão de fé, e houve duas no Domingo de Páscoa, por isso marcámos o dia 8 de Junho para um culto de baptismos. Também nesse intervalo do último mês recebemos visitas de pastores de fora, houve oportunidades de participar em estudos bíblicos, e as novas cadeiras encomendadas pela igreja devem chegar até ao fim de Maio. O trabalho aparece de todos os lados: do consulado, das traduções, e graças a Deus, na igreja, também.

Mas a última novidade foi:

Tirei essa foto quando descemos do avião no Sábado passado, à noite, às 23h. Saímos da Madeira por volta de meio dia, e vamos ficar na Irlanda até ao dia 28. A maior parte desse tempo será passado na Irlanda do Norte, mas vamos para a República da Irlanda (Dublin) amanhã (5ª) para ficar até Domingo. Estamos acompanhando uma excursão de um grupo da universidade onde estudei, mas também vamos aproveitar para visitar duas irmãs (irmãs nossas em Cristo, mas as duas são irmãs na carne, também) que primeiramente conhecemos na Madeira em 1981 ou 1982, quando lá foram de férias. Voltaram muitas vezes durante os anos, e sempre nos convidaram a visitá-las. Ficámos com elas as primeiras duas noites, enquanto o resto do nosso grupo vinha dos EUA, e voltaremos a ficar com elas 4 dias, depois do grupo regressar à América.

Antes de regressar à Madeira, ficaremos mais uma semana na Inglaterra a visitar Pastor Roland Brown e esposa, que já visitaram a nossa igreja várias vezes. Estamos a contar com a possibilidade de nos encontrar com Jackie e Jaime, que estarão de volta à Inglaterra, depois de 6 meses na Austrália, onde visitaram família.

Em seguida vai uma série de relatos sobre os primeiros dias da nossa viagem, entretanto já publicados no blog em Inglês.

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Dia 1 – 10 Maio – Do Funchal a Belfast

Saímos da Madeira logo após meio-dia, voando pela primeira vez numa linha “low-cost”. O voo para Stansted durou pouco mais de 3 horas, e conseguimos lugares na fileira da saída de emergência, o que foi uma bênção.

Aproveitei o tempo para ler a biografia de C. S. Lewis (autor da série Narnia), escrita por Derick Bingham. Durante a nossa excursão, vamos ter uma reunião com o autor e vamos visitar alguns lugares relacionados come Lewis, que era natural de Belfast. Li a maior parte do livro no voo até Stansted, e conclui a leitura no voo de l hora entre Stansted e Belfast. Outra vez conseguimos lugares junto da saída de emergência, portanto, viajámos muito bem.

Elizabeth nem só estava no aeroporto para nos receber, ela conseguiu convencer o pessoal do aeroporto a deixá-la entrar na zona de recolha de bagagem. Ela e a irmã devem ter viajado tanto nestes anos que são consideradas parte do pessoal do aeroporto!

Dia 2- 11 Maio - Domingo - Estamos em casa

Não viajamos tanto, mas estar longe da igreja onde estamos em casa pode ser um problema: Onde ir? Será uma bênção espiritual?

Sentiremos que estivemos na presença de Deus? Como estamos hospedados com Elizabeth e Joan vamos à igreja delas: Ballymena Baptist Church. Em muitas coisas é muito diferente da nossa:

1) Dentro de um ano, a igreja vai celebrar 130 anos; têm um avanço de 100 anos sobre a nossa.

2) Julgamos que houve 300+ no culto de manhã; a assistência na nossa igreja deve ser mais ou menos o remanescente que ultrapassa os 300 na sua igreja.

3) Eles têm uma orquestra pequena, mas muito completa, com 3 guitarras, uma flauta, um violino, um piano, um teclado, e uma bateria; neste campo estamos mais próximos---um piano, uma guitarra, uma flauta muito infrequente e, de vez em quando, uma harmónica.

4) Daqui um mês, vão mudar para o seu novo templo, deixando a escola onde se reúnem provisoriamente; construimos o nosso novo templo há 4 anos.

Mas quando cantaram, sentimos a presença do Senhor no seu culto; quando o pastor pregou, era a Palavra de Deus pura de início até ao fim, tanto de manhã, como no culto da tarde. Estávamos em casa. No próximo Domingo, estaremos em Dublin, mas no Domingo a seguir estaremos nessa igreja novamente; novamente sentiremos que estamos em casa, pois é a casa do Senhor.

À tarde, almoçámos fora no quintal de Elizabeth e Joan, à beira do rio. Patos subiam e desciam constantemente, e a água passou calmamente debaixo dos ramos das árvores a jusante. Fez-me lembrar das palavras do Salmista no Salmo 1:3, que aquele que medita na lei do Senhor será como árvore plantada à beira do rio, sempre dando seu fruto, sempre próspero em tudo que faz.

Dia 3 – 12 Maio – 2ª-feira -- Quando nem tudo corre como planeado

Estamos na Irlanda nesta altura porque estamos a acompanhar uma excursão de Irlanda do Norte e a República da Irlanda entre hoje e 6ª-feira da próxima semana. Os organizadores da excursão, Tracy Balzer e seu marido, Cary, ensinam na John Brown University, onde eu me formei em 1968 (no século passado), e a nossa filha Joy e seu marido, Mark Stoner, já nos primeiros anos deste século.

O grupo voou de Newark a Belfast durante a noite e chegaram logo após 9h00. Falámos por telemóvel com eles às 10h30 para confirmar o nosso encontro no hotel às 12h00. Quando falei com Tracy, eles já estavam na autoestrada a caminho do hotel.

Nós saímos de casa às 11h15 e Joan nos levou de Ballymena até ao hotel, o que levou uns 45 minutos. Estávamos no hotel na hora indicada, mas nada do grupo. Depois de esperar mais uns 45 minutos, a nossa fome devorou a nossa paciência e decidimos ir buscar alguma coisa para comer. Como nunca mais conseguimos falar com Tracy por telemóvel, deixámos um bilhete para dizer que estaríamos de volta às 14 horas.

Depois de almoçar, regressámos às 14:00, e... “o grupo não apareceu ainda”, fomos informados. Sentámo-nos; começámos a ler um jornal; uma dúvida súbita---será que estávamos no hotel certo? Lembrámos que houve uma mundança de reservas--será que era este que já não estava na lista? Fui me informar novamente na recepção: de facto havia um grupo com reservas em nome de Tracy Balzer. Nada a fazer, senão pedir um café e esperar. Claro, logo que trouxeram o café à mesa, a carrinha apareceu em frente do hotel.

Razão do atraso: obras no A2, que Joan sabia bem, e por isso nos levou por um caminho mais longo, mas mais rápido, pela cidade de Belfast. Como imaginámos, eles não saíram da autoestrada onde deviam, e como já estavam longe do hotel, almoçaram numa vila pequena no campo antes de procurar o hotel. Razão por quê não conseguimos falar: Tracy não tinha saldo nos cartões de telemóvel que usa no Reino Unido. Ela sabia que eu estava a chamar, mas no plano dela, nem pode atender se não tem saldo.

Mas tudo está bem quando acaba bem. Depois que estávamos todos instalados nos quartos, demos um passeio que incluiu um jardim botânico e Queen’s University (no fundo, atrás dos líderes, Cary e Tracy). Eu penso que os outros voltaram ao hotel para dormir depois da sua longa viagem, mas eu e Abbie andámos ainda mais uma hora, no fim de um dia maravilhoso. Quem disse que está sempre a chover em Belfast?

terça-feira, maio 13, 2008

Quando o perder é ganhar

Já vai em 9 anos que vou à prisão para dar estudos bíblicos de modo regular. O que começou com reuniões de 2 em 2 semanas, tornou-se semanais; começaram com 2 homens, e cheguei a ter 15, de quase tantos países; nos primeiros anos Inglês foi a língua franca, depois passou para bi-língue (Português e Inglês) e por vezes, tri-língues (um pouco de Francês, ou uma dose forte de Russo-Ucraniano). Mas, como com tudo na vida, nem estas situações eram permanentes. Na última reunião, só houve um recluso: Oleksiy (ou seja, Alex).
Além disso, ele me informou que ele seria o único daqui para frente.

Carlos, o açoriano, vai embora este mês; Oleg, um ucrâniano, há tempo pediu transferência para o continente, e em breve o seu pedido será concedido; Nikolay, outro ucraniano, saiu recentemente também, deixando Alex só. Ele confessou que estava preocupado, e falou disso ao Nikolay quando ele saiu: a pergunta que me fez foi:

"O pastor continuará a vir só por mim?"

O seu maior medo foi que eu chegaria à conclusão que não valia a pena tomar o tempo cada semana para ir à prisão para uma só pessoa. Mas de certa maneira, fiquei contente com a notícia. Por quê?

1) Porque agora a confusão de línguas ficou reduzida. Podemos falar em Português ou Russo à vontade; isto é, não haverá outra pessoa que nos obrigue a falar Português.

2) Eu já tinha arranjado um curso biblico em Russo, escrito especificamente para prisioneiros. Perguntei-lhe se ele já havia começado o curso. "É muito difícil fazer sem alguém para me orientar," ele disse. "Tenho dificuldade em encontrar os versículos na Bíblia." Quando eu for à prisão da próxima vez, poderemos fazer juntos o curso em Russo, pois o Alex mostra grande desejo de conhecer Deus.

Ele foi baptizado na Igreja Ortodoxa, mas só quando tinha mais de 20 anos. Embora fosse criado numa família de atéus (seu pai era oficial no exército soviético), ele chegou a acreditar que há um Poder Supremo, e ele está à procura de mais conhecimento acerca de Deus. Recentemente, foi castigado com 10 dias em solitário pela infracção de algum regulamento interno quase insignificante. Aceitou o castigo como uma benção: assim ele teve tempo de estar só para ler e meditar, longe da confusão geral do ambiente prisional em volta da sua cela: rádio com volume alto, argumentos, brigas, linguagem suja.

Este foi parte da razão por quê ele ficou tão contente em ouvir que eu continuaria a ir à prisão: "Estes 45 minutos são o único raio de luz na minha existência; o pastor representa a única luz que me chega nesta existência tão difícil aqui." (Minha tradução livre, mas era isso que estava a dizer.)

Mas há um segundo motivo para se alegrar: sendo o último recluso de fala russa na prisão (ainda há outro que nunca veio às reuniões, mas também está de saída), Alex não terá mais ninguém com quem possa falar Russo...a não ser comigo. Será bom para ele ter estas reuniões, para que ele não perca a facilidade em se exprimir na sua própria língua—caso o leitor não soubesse pela experiência de viver numa cultura de outra língua durante um período mais longo, tal possibilidade é muito real—e será bom para mim, para que possa melhorar o meu Russo. Mas também significa que aqueles 45 minutos serão tempo bem aproveitado, concentrado em uma alma com sede de Deus. Jesus ensinou que quem perde, em verdade, ganha; concordo que, neste caso, ter menos, é uma mais valia no sentido espiritual.