A primeira hora da nova semana de trabalho foi gasta em voltas pela cidade que me fizeram meditar sobre a fé, ou a falta dela. 1: Pagar o seguro do carro. (Era para ser pago no dia 6, e por descuido deixei passar a data...já estava a ver que ia perder mais de 25 anos de bónus com as regras da nova lei em Portugal, que não concede período de 30 dias de graça! Cheguei a tempo pois o agente não tinha devolvido o recibo ainda, graças a Deus!) 2: Ir aos correios levantar a carta do Ministério de Justiça em resposta do nosso pedido de registo da Igreja no Registo Nacional de Colectivas Religiosas, de acordo com a Lei da Liberdade Religiosa. 3: Pagar o contributo mensal para a "caixa"...o Centro de Segurança Social da Madeira.
Ítens 1 e 3 são obrigatórios. Pertencem à mesma classe de programas como os PPR's, fundos de pensões, e apólices de seguro de saúde. (Há outros com certeza.) Como cidadão consciente, desconto para a segurança social (de dois países!); como bom mordomo, procuro planear para uma eventual aposentadoria, investindo alguma coisa cada mês em fundos e planos de poupança (em dois países!); e aproveitei a oferta do Departamento do Estado dos EUA para um plano de seguro de saúde subsidiado. Alguns destes programas são facultativos, é verdade, mas quem duvida da sabedoria de fazer bom uso do dinheiro em planear para o futuro? Em fim, com todo o planeamento e programação social, será que as pessoas que vivem nas sociedades de hoje com orientação e política social realmente têm necessidade de confiar em Deus? Se acontecer algo, o governo ou a companhia de seguros virá resolver o nosso problema.
Ítem 2 (o registo da igreja) é mais um exemplo da intervenção do governo, mas a nível diferente. A queda do regime em Abril 1974 mudou a relação que existia entre a Igreja Católica e o Estado Português. Apesar de tanto falar em liberdade e igualdade, nem sempre a realidade demonstrou que era assim na prática. Só há três anos atrás veio a Lei da Liberdade Religiosa ser aprovada. "Liberdade"...? "Igualdade"...?? É verdade que não há perseguição oficial; há uma abertura maior em relação aos evangélicos em muitos lugares no país (mas não vamos dizer que é assim em todos os lugares no país). Mas entendo por quê Igrejas Baptistas em outros países (especialmento nas antigas repúblicas da URSS) recusaram registar com o governo. Por mais súbtil que seja, existe ainda a ideia de que o governo precisa "controlar, supervisionar, estar de olho em" os vários grupos religiosos.
Já em 1987, cumprimos as nossas obrigações jurídicas e registámos a nossa igreja, e a igreja foi constituida numa pessoa jurídica para que pudêssemos comprar uma propriedade. Graças a isso, hoje a igreja possui o seu próprio templo. Mas o antigo registo no Ministério de Justiça está a ser extinto, de acordo com a nova lei de "liberdade religiosa". A carta hoje nos informou que o nosso processo não está em condições de ser remetido para o novo Registo de Colectivas Religiosas. Temos 15 dias para esclarecer os pontos em que julgam não estarmos em conformidade. Ainda não estudei os pontos específicos, mas não vejo razão para não conseguirmos cumprir com o que pedem. MAS...isto não responde à pergunta por quê nós, "uma associação religiosa não-católica" somos obrigados a registar, se de facto, somos "livres e iguais".
Depois de passar a primeira hora do dia nesta volta inspiracional, a lidar com deveres perante o governo e a sociedade destinados a nos proteger e nos dar tudo que precisamos, eu começei a meditar sobre o papel que a fé em Deus tem em nossas vidas hoje. (Escrevo como membro de uma sociedade ocidental de política altamente social.) Devemos ficar admirados em ver a falta geral de fé em Deus nas pessoas em nossa volta? Há entre os evangélicos dos EUA, e não só, um movimento com muitos seguidores que ensina que nós, a igreja, podemos, e devemos transformar sociedades inteiras, isto é, ganhar o mundo para Cristo, cidade por cidade, país por país. Soa bem, mas na minha Bíblia encontro as palavras do próprio Jesus em Lucas 18:8 que me parecem ser uma forte contradição a tal ensino: "Contudo quando vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?" A resposta óbvia é--"Não, não muita."
Eu escrevi que o Pastor Neilson Amorim e família vêm amanhã para passar uma semana connosco. Por quê sentimos uma atracção tão forte a esta família e ao trabalho que estão a fazer? Embora não conhecêssemos a sua história no início, mais tarde ficámos a saber que quando sentiram a chamada de Deus para deixar o Brasil e vir trabalhar em Portugal, a junta missionária não aceitou a sua candidatura. Então, em obediência a Deus e não aos homens, venderam tudo e vieram com o apoio da sua igreja (humanamente falando, insuficiente), confiando em Deus para suprir as suas necessidades. Agora, o Pastor Neilson diz que, mesmo que lhe seja oferecido o apoio da junta, não está disposto a trocar a liberdade de confiar em Deus e Suas promessas pela "segurança" oferecida num contrato feito por homens. Ecos da nossa chamada para o campo missionário, e a maneira maravilhosa em que Deus nos sustentou ao longo dos anos, e muito além das nossas expectativas. Neste momento, temos mais garantias de estabilidade financeira, do ponto de vista dos homens, do que alguma vez tivemos na vida, mas dou graças a Deus por Pastor Neilson e a sua família. Servem de exemplo e para nos recordar do tipo de fé eu nunca quero perder.
Quando Jesus vier, encontrará a fé na terra? Não, não muita, mas enquanto houver homens e mulheres como Neilson e Esther, Ele encontrará os poucos fiéis, que estão completamente entregues a Deus. Faço minhas as palavras daquela velha canção, "When the Saints Go Marchin' In"---Lord, I want to be in that number (Senhor, eu quero fazer parte daquela companhia!).
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