Notícias da Igreja Baptista do Funchal e informações sobre o trabalho do evangelho na Ilha da Madeira
domingo, março 06, 2011
"Uma Casa na Pradaria"
Foi o verão de 1956, quando eu tinha 9 anos, que a nossa família mudou para o que era literalmente "uma casa na pradaria"...como no livro com esse título. Pradaria genuína. Ao sul da nossa casa, o horizonte perdeu-se de vista com duas ou três casas espalhadas na paisagem; a leste, penso que nem havia casa por uma distância de 60 km. Nunca vi uma. As Montanhas Rochosas, mais ou menos 100 km ao oeste, ergueram-se subitamente da planície, e pelo que dava para ver da nossa casa houve uma casa e outra entre nós e aquelas montanhas distantes.
Em verdade era uma casinha. Os nossos pais levaram os seus quatro filhos para uma casa que tinha uma cozinha que quase era só kitchenette, tão pequena que era; havia sala de jantar, sala de estar e 1 quarto de dormir. Os pais ocuparam o quarto de dormir, claro; eu e meu irmão dormíamos em beliches na sala de jantar; as duas irmãs na sala de estar, eu acho...não me lembro delas terem dormido no quintal. E se pensa que esqueci-me de mencionar outro quarto, está enganado. Havia uma casinha ainda mais pequenina na pradaria uns 20 m atrás da casa; casa de banho não era, porque não íamos lá para tomar banho; banhos eram tomados Sábados à noite numa tina no quarto dos pais.
Com tempo, o Pai juntou mais quartos à casa e instalou água canalizada. Já não era necessário ir à cisterna e bombear à mão água para trazer para a casa em baldes; nós rapazes deixámos de dormir na sala de jantar; as manas não dormiram mais na sala de estar. O Pai até fez uma casa de banho completo dentro de casa...mas até lá eu já tinha saído de casa.
O Pai faleceu em 1985, e a Mãe continuou a viver na quinta até uns 5 anos atrás. Depois de viver naquela casa durante 50 anos, vendeu a quinta e mudou-se mais perto da cidade, mais perto de família.
Na 4ª-feira passada, a casa, que permaneceu devoluta depois da Mãe sair, ardeu por completo. A Mãe viu a reportagem na TV, mas as chamas eram tantas que ela nem reconheceu a casa. O meu cunhado passou depois e disse que a única estrutura ainda em pé é a chaminé e lareira que o Pai fez uns anos depois de eu ter saído de casa.
É triste pensar nisso, mas eu pensei em algo mais triste ainda. O apóstolo Paulo escreveu em 1 Cor. 3:10-14 que todos seremos julgados um dia pela obra que tivermos feito. Ao comparar as nossas vidas com a construção de uma casa sobre o fundamento de Jesus, Paulo disse que se construímos com madeira, feno ou palha, o fogo divino consumirá tudo; se construímos com ouro, prata ou pedras preciosas, a nossa obra permanecerá. "...o fogo proverá qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo." Perder tudo que se construiu durante a vida, isso é deveras triste.
A nossa antiga casa feita de madeira e estuque não pôde resistir ao incêndio; só ficou a chaminé. A Mãe, especial e compreensivelmente, sente uma tristeza ao se lembrar do trabalho todo que o Pai fez lá, aumentando e melhorando a casa. Mas o que ardeu na 4ª-feira não é a casa que o Pai fez; a casa que ele construiu continua firme e em pé. Ele disse uma vez a um amigo que ele não comprou a quinta para cultivar milho ou criar porcos... (algo desse gênero; não me lembro das palavras exactas que ele usou), mas antes era para criar a sua família. Isso ele fez.
Ele não tinha ilusões de grandeza quando pensava na sua propriedade, que muitas vezes chamou de seu "Rancho Not-so-Grande". (O Espanho dele era limitado, mas dava para entender.) Ele estava preocupado em edificar um outro tipo de casa, e se Deus quiser, essa casa estará reunida novamente em Agosto quando a Mãe celebrar os seus 95 anos. Já não é uma casinha na pradaria; é uma casa que cresceu e espalhou-se até aos cantos dos EUA e ao meio do Atlântico.
[O desenho em cima é a primeira--e até ao momento, a única--aguarela que fiz. A Mãe nos enviou uma foto da casa que ela tirou durante uma tempestade de neve, aparentemente em 1997, segundo o que escrevi no quadro. Uns dois anos depois, fiz a aguarela e lhe enviei, e está pendurada na casa onde ela vive agora. Nas mudanças de computadores, perdi o ficheiro da digitalização que fiz do desenho, e meu irmão tirou uma foto do quadro na sua moldura e me enviou esta semana.]
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