Como tenho de passar todos os dias pela praça em frente da Sé no Funchal, quase não ligo para a estátua que foi erigida lá, junto da Avenida do Mar. Foi colocada lá para comemorar a visita do Papa João Paulo II à Madeira em Maio de 1991.
Mas, quando passei pela praça na 6ª-feira e olhei em direcção ao mar, notei logo uma diferença. Bancadas tinham sido montadas para acomodar as várias personagens importantes que iríam assistir ao desfile do Carnaval no Sábado à noite. Enquanto milhares de madeirenses e turistas são obrigados a ficar em pé durante várias horas para conseguir um bom lugar donde podem ver o desfile, e depois assistir o mesmo durante outras duas horas, um número limitado de pessoas tem o privilégio de ficarem bem sentados. Foi justamente esta bancada que atraiu a minha atenção. Foi colocada directamente entre o Papa e a Avenida onde passa o desfile. Taparam a vista do Papa!
E visto de outro ângulo, temos a impressão de que o Papa esteja a promover o Casino. Em verdade, essa publicidade está no balão do outro lado da Avenida, que leva turistas até mais ou menos 150m para terem uma vista panorâmica da cidade.
A cena pareceu-me um tanto absurda. Foi como se quiséssem impedir o Papa de assistir o desfile. (Claro, não tinha nada a ver com isso, mas foi a minha primeira impressão.) O Carnaval tem sido uma grande aposta da Direcção Regional do Turismo há muitos anos, e muitas tradições carnavelescas dos madeirenses já deram lugar às tradições do Brasil na tentativa de atrair turistas. De qualquer maneira, a filosofia atrás deste período é que "é Carnaval, ninguém leva a mal." Ou seja, vale tudo, não existem regras.
Existem várias explicações sobre a origem destes dias de "fazer-tudo-que-lhe-passa-pela-cabeça." Mas uma coisa está certa: o Carnaval representa justamente o oposto daquilo que a Bíblia nos ensina a fazer e a ser. Na medida que o Papa é visto pela maioria do mundo como sendo o representante máximo de cristianismo, tapar-lhe a vista do desfile do Carnaval parece ser a mais correcta opção. Mas, algo não bate certo nisso: o Carnaval só tem expressão forte nas culturas onde a Igreja Católica domina...o que inclui a Madeira.
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